REALIDADE MÁGICA – LIVRO 1
PARTE 2 – (Capítulo 3)
O MÁGICO
Fui para casa e não conseguia dormir. Pareceu-me uma
eternidade esperar pelo dia seguinte. Levantei bem cedo e, girando o anel,
transportei-me para a árvore de Crisélia. Intrigada, ela comentou:
– Ontem, depois que você saiu, não resisti e fui ao quarto de
Anabel para testar a magia do espelho. Ele me mostrava tudo, menos Eliel. Para
não acordá-la, resolvi trazer o espelho para a sala. Eu estava disposta a não
desistir até conseguir vê-lo. Para a minha surpresa, no momento em que retirei
o espelho do quarto, o rosto de Eliel surgiu imediatamente, e eu pude
observá-lo como antes. Agora eu tenho certeza: Eliel não criou uma barreira
para mim e sim para Anabel. Mas a pergunta é: por que ele a estaria evitando se
desejava encontrá-la? Essa é uma pergunta que somente ele poderá responder.
Empreste-me o anel para que eu possa ir à casa de Eliel.
Entreguei o anel a Crisélia, e ela desapareceu num piscar de
olhos. Sentei e decidi esperar até que retornasse. Não passou tempo algum, e
Anabel entrou na sala abraçada a um livro. Surpresa com a minha presença,
perguntou:
– Quem é você? Onde está Crisélia?
Para não assustá-la, respondi ternamente:
– Nós já nos conhecemos. Meu nome é Felizardo. Crisélia saiu
para fazer compras.
Ela riu antes de comentar:
– Crisélia mentiu para você. Ela não compra nada. Tudo o que
ela quer simplesmente aparece. Você também é mágico?
Aventurei-me a dizer:
– Não. Mas conheço alguém que é. Seu nome é Eliel.
Ela exclamou tristemente:
– Eliel! Por que, ao ouvir e repetir esse nome, eu sinto o
coração apertado? Ele pode me enfeitiçar?
Respondi sorrindo:
– Ele já a enfeitiçou, e você também conseguiu enfeitiçá-lo.
Ele está apaixonado por você e pediu-me para levá-la até ele.
Desconfiada, Anabel exclamou:
– É mentira! Se ele gostasse de mim, estaria aqui. Por que
ele não veio?
Lembrei-me do bloquinho de anotações em meu bolso. Eu o abri
e li para ela as poucas palavras que Eliel utilizou para compor sua história:
“Em muitas florestas, existe sempre uma única árvore, habitada pelo mesmo elfo
que chora de saudade.”
Anabel exclamou:
– Eliel!… Agora eu me lembro!… O que houve?!… Onde ele
está?!… Por favor, impeça Inocêncio de cortar a árvore de Eliel! Onde está
Crisélia?! Ela sempre me protege. Você não pode dizer a ninguém que estou aqui.
Eu tenho medo. Onde está Crisélia?
O encantamento inicial deu lugar ao desencanto e eu, sem
saber o que fazer, abracei-a para confortá-la. Com a intenção de ajudá-la a
esquecer de sua desventura por alguns minutos, sugeri:
– Leia uma história para mim. O seu livro parece muito
interessante.
Os olhos de Anabel brilharam quando ela perguntou:
– Você também gosta de contar histórias?
Respondi satisfeito:
– Certamente. Essa é a minha profissão.
Orgulhosa de si mesma, ela comentou:
– Antes eu tinha que memorizar as histórias porque eu não
sabia ler e escrever. Depois que Crisélia ensinou-me, passei a fazer anotações
e ficou mais fácil lembrá-las. Também comecei a ler muitos livros, e isso
aumentou muito o meu repertório. O que me entristece é não ter ninguém a quem
contá-las.
Para animá-la, eu disse:
– Pode contá-las para mim.
FIM DO TERCEIRO CAPÍTULO
Sisi Marques
20/09/2020
C O N T I N U A . . .
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