tag:blogger.com,1999:blog-85774695125315385412024-03-13T13:42:27.578-07:00Realidade Mágica de Sisi MarquesSisi Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11800137749763796675noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-8577469512531538541.post-84919396103306328112020-09-20T08:44:00.003-07:002020-09-20T08:50:36.099-07:00REALIDADE MÁGICA - PARTE 2 - O MÁGICO - CAPÍTULO 3<p> </p><p class="MsoNormal"><br /></p>
<p class="MsoNormal"> <span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: x-large;"> </span><span style="font-size: large;">REALIDADE MÁGICA – LIVRO 1 </span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"> PARTE 2 – (Capítulo 3)</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"> O MÁGICO </span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Fui para casa e não conseguia dormir. Pareceu-me uma
eternidade esperar pelo dia seguinte. Levantei bem cedo e, girando o anel,
transportei-me para a árvore de Crisélia. Intrigada, ela comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Ontem, depois que você saiu, não resisti e fui ao quarto de
Anabel para testar a magia do espelho. Ele me mostrava tudo, menos Eliel. Para
não acordá-la, resolvi trazer o espelho para a sala. Eu estava disposta a não
desistir até conseguir vê-lo. Para a minha surpresa, no momento em que retirei
o espelho do quarto, o rosto de Eliel surgiu imediatamente, e eu pude
observá-lo como antes. Agora eu tenho certeza: Eliel não criou uma barreira
para mim e sim para Anabel. Mas a pergunta é: por que ele a estaria evitando se
desejava encontrá-la? Essa é uma pergunta que somente ele poderá responder.
Empreste-me o anel para que eu possa ir à casa de Eliel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Entreguei o anel a Crisélia, e ela desapareceu num piscar de
olhos. Sentei e decidi esperar até que retornasse. Não passou tempo algum, e
Anabel entrou na sala abraçada a um livro. Surpresa com a minha presença,
perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Quem é você? Onde está Crisélia?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Para não assustá-la, respondi ternamente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Nós já nos conhecemos. Meu nome é Felizardo. Crisélia saiu
para fazer compras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ela riu antes de comentar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Crisélia mentiu para você. Ela não compra nada. Tudo o que
ela quer simplesmente aparece. Você também é mágico?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Aventurei-me a dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não. Mas conheço alguém que é. Seu nome é Eliel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ela exclamou tristemente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eliel! Por que, ao ouvir e repetir esse nome, eu sinto o
coração apertado? Ele pode me enfeitiçar?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Respondi sorrindo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Ele já a enfeitiçou, e você também conseguiu enfeitiçá-lo.
Ele está apaixonado por você e pediu-me para levá-la até ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Desconfiada, Anabel exclamou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– É mentira! Se ele gostasse de mim, estaria aqui. Por que
ele não veio?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Lembrei-me do bloquinho de anotações em meu bolso. Eu o abri
e li para ela as poucas palavras que Eliel utilizou para compor sua história:
“Em muitas florestas, existe sempre uma única árvore, habitada pelo mesmo elfo
que chora de saudade.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Anabel exclamou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eliel!… Agora eu me lembro!… O que houve?!… Onde ele
está?!… Por favor, impeça Inocêncio de cortar a árvore de Eliel! Onde está
Crisélia?! Ela sempre me protege. Você não pode dizer a ninguém que estou aqui.
Eu tenho medo. Onde está Crisélia?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O encantamento inicial deu lugar ao desencanto e eu, sem
saber o que fazer, abracei-a para confortá-la. Com a intenção de ajudá-la a
esquecer de sua desventura por alguns minutos, sugeri:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Leia uma história para mim. O seu livro parece muito
interessante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Os olhos de Anabel brilharam quando ela perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Você também gosta de contar histórias?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Respondi satisfeito:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Certamente. Essa é a minha profissão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Orgulhosa de si mesma, ela comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Antes eu tinha que memorizar as histórias porque eu não
sabia ler e escrever. Depois que Crisélia ensinou-me, passei a fazer anotações
e ficou mais fácil lembrá-las. Também comecei a ler muitos livros, e isso
aumentou muito o meu repertório. O que me entristece é não ter ninguém a quem
contá-las.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Para animá-la, eu disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Pode contá-las para mim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">FIM DO TERCEIRO CAPÍTULO<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Sisi Marques</span><o:p></o:p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">20/09/2020</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><br /></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">C O N T I N U A . . .</span></p>Sisi Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11800137749763796675noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8577469512531538541.post-17312676111040504252020-09-07T15:34:00.002-07:002020-09-20T08:35:10.290-07:00REALIDADE MÁGICA – PARTE 2 – O MÁGICO - CAPÍTULO 2<p> </p><p class="MsoNormal"> <span style="font-size: large;"> REALIDADE MÁGICA – LIVRO 1 </span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"> PARTE 2 – (Capítulo 2)</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"> O MÁGICO <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Graças à generosidade de Eliel, conheci muitos lugares que
jamais caberiam no meu orçamento. Durante as apresentações que realizei em uma
cidadezinha, havia uma jovem que me olhava com insistência e não perdia uma das
minhas sessões. Eu pensava: “Se ela me enviasse um sinal qualquer, eu ficaria
felicíssimo.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Certo dia, eu estava no banco de um jardim, preso em um
desses devaneios causados pela lembrança do olhar da bela jovem, quando algo
saltou em meu bolso. Sorri ao lembrar-me de Eliel. Ele certamente preocupava-se
com a minha demora. Entretanto, um calafrio percorreu a minha espinha no
momento em que retirei o cartão do bolso e li as palavras: “Gire o anel em
sentido horário e encontre-se comigo em minha árvore.” Não poderia tratar-se de
Eliel porque, para encontrá-lo, eu teria que girar o anel em sentido contrário.
Seria Crisélia?! Um pavor imenso apoderou-se de mim. Seria ela a jovem pela
qual eu, inadvertidamente, me apaixonara?!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu estava confuso e pensava em retornar à casa de Eliel para
contar-lhe o ocorrido quando uma ligeira esperança surgiu com o pensamento:
“Talvez a dona do bilhete não seja a dona do meu coração.” Levantei, olhei ao
redor e verifiquei que não havia ninguém me observando… Desejei estar na árvore
de Crisélia, fechei os olhos, girei o anel e lá estava eu. Senti-me aliviado
quando uma jovem, que eu nunca vira antes, assustou-se e perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Quem é você? Como ousa invadir a minha privacidade? Não vê
que eu me preparava para repousar?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu disse sem rodeios:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Lamento se cheguei num momento inoportuno, mas foi você
quem me convidou a vir. Vamos logo ao que interessa: onde está Anabel?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">A jovem empalideceu, e eu quase perdi o equilíbrio quando a
ouvi afirmar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eu sou Anabel. E você, quem é?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ainda não refeito da surpresa, balbuciei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Ninguém. Quero dizer, ninguém que você conheça. Meu nome é
Felizardo; sou amigo de Eliel. É ele quem está à sua procura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ela sorriu tristemente antes de dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eu não conheço o seu amigo e duvido que haja alguém
procurando por mim. Já faz tanto tempo que estou aqui sem ver ninguém além de
Crisélia!… Como é o mundo lá fora?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Desejando estar na árvore de Eliel, segurei a mão de Anabel,
fechei os olhos e girei o anel antes de responder:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Você descobrirá por si mesma.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Abri os olhos, e ela perguntou assustada:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– O que está fazendo?!… Largue a minha mão!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Nervoso, chutei algo que estava no caminho enquanto exclamava:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não deu certo! Aquela bruxa sabia que eu não conseguiria,
e foi só por esse motivo que permitiu que eu me aproximasse!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Surpreendi-me ao ouvir uma voz melodiosa dizer pausadamente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não sou a vilã dessa história. Eu também desejava que você
conseguisse levá-la até Eliel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Perguntei em tom ríspido:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Se não é mesmo uma bruxa, por que manteve esta jovem
prisioneira por mais de sessenta anos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Lamentei as minhas palavras pela reação que provocaram em
Anabel. A lembrança de sua desventura retornou à sua mente, e ela entregou-se a
um choro convulsivo. Dando-lhe algo para beber, Crisélia perguntou-me:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Está satisfeito?!… Viu só o que conseguiu fazer à
pobrezinha? Tive que lhe dar novamente a poção do esquecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Enlouquecido, exclamei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Que poção é essa?!… Como consegue conviver com a sua
consciência?!…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O olhar de Crisélia atravessou-me como uma lança. A pedido
dela, saímos do quarto de Anabel e nos dirigimos à sala. Convidando-me a
sentar, ela disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não se preocupe com a saúde de Anabel, porque a poção não
é tóxica. Ela adormecerá rapidamente e, quando acordar, não se lembrará de sua
desagradável visita.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Depois, olhando-me com desprezo, ela prosseguiu tecendo
ofensas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Humano, satisfaça a minha curiosidade: o que Eliel
prometeu-lhe em troca de ajudá-lo a localizar Anabel? Teria ele encontrado
novamente a Fonte da Juventude?… Quanto pretende conseguir por sua preciosa
água?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Levantei-me. Procurando manter a calma, disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não estou preocupado com o que possa pensar a meu
respeito. A mente é sua; envenene-a o quanto quiser. Contos de fada são mais
fáceis de ser contados do que vividos. O meu único desejo é que a história de
Eliel e Anabel tenha um final feliz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ela surpreendeu-me quando perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– E quanto a mim? Não se importa com os meus sentimentos?
Não se importa com o final que a minha história possa ter?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu estava sem palavras. Importava-me sim e muitíssimo. Eu
desejava que ela pudesse ter toda a felicidade que o seu coração almejasse.
Entretanto, respondi simulando indiferença:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– A sua história terá um final desastroso se você continuar
mantendo Anabel prisioneira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Espargindo farpas de ironia, ela disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Anabel não é minha prisioneira. Nunca foi. Eu só a estou
protegendo. Por que me olha desse jeito? Não acredita em mim?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Respondi com firmeza:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não. Nada do que disser poderá inocentá-la. Nada poderá
justificar a sua atitude em relação a Anabel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Crisélia, revestindo-se de paciência, revelou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Ouça o que descobri depois que jurei vingar-me do meu
irmão… Eu estava no encalço de Anabel para atraí-la para a minha árvore e dar
uma pequena lição em Eliel quando, inesperadamente, eu a vi encontrar-se com
Inocêncio, o homem que prometera amar-me eternamente. Escondi-me e fiquei
petrificada ao ouvi-lo ameaçar cortar a árvore de Eliel, caso Anabel
desperdiçasse a água da Fonte da Juventude em benefício próprio. No início,
pensei que ele quisesse a água mágica para que pudéssemos realizar o nosso
sonho, mas logo percebi que o sonho era somente meu. Inocêncio ousou colocar um
preço naquela dádiva da natureza e já possuía um comprador. Ele estava furioso
e insistia para que Anabel lhe entregasse o frasco. Ela negava que o objeto
estivesse em seu poder. Ele estava irreconhecível, completamente fora de si!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Com o olhar distante, Crisélia prosseguiu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Anabel chorava, e eu tive que intervir. Para defendê-la,
lancei um encantamento sobre os galhos de uma árvore próxima. Os galhos
ganharam vida e seguraram-no para que eu conseguisse conduzi-la à minha árvore.
Após refazer-se do susto, Anabel contou-me que Inocêncio, seu irmão, obrigou-a
a contar tudo sobre Eliel, e ela acabou revelando a existência do frasco que
continha a água da Fonte da Juventude. Após ouvi-la atentamente, pude concluir
o restante da história: Inocêncio, para evitar que Anabel bebesse o precioso
líquido, resolveu consegui-lo através de mim. Naquela época, devido à minha
forte ligação com Eliel, nossas árvores deslocavam-se juntas para um novo lugar
e permaneciam sempre próximas. Não foi difícil para Inocêncio, sem o
conhecimento de Anabel, localizar a minha árvore e arquitetar uma aproximação.
Ele parecia tão sincero, e eu caí em sua teia. Ele insistia em dizer que o seu
maior desejo era tornar-se imortal para viver ao meu lado eternamente, e tinha
a certeza de que eu pediria a Eliel que me entregasse a água da Fonte da
Juventude para que eu pudesse ofertá-la a ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Aproveitei-me do momento em que Crisélia fez uma pausa para
perguntar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– O que tencionava fazer a Anabel antes de presenciar o
inesperado encontro?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Crisélia respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eu pretendia escondê-la por alguns dias apenas para
chatear Eliel. Amo o meu irmão e gosto de Anabel. Eu seria incapaz de
magoá-los.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Algo estava errado. As peças daquele enorme quebra-cabeça
não se encaixavam. Surpreendi-me ao ouvir Crisélia dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Também não consigo compreender por que Eliel e Anabel
continuam separados. Desde aquele dia em que eu a trouxe para a minha árvore,
não consegui mais entrar em contato com ele. Não consigo vê-lo no espelho. Não
consigo localizar a sua árvore. Não consigo enviar-lhe uma mensagem. Quando
você veio para este lugar, eu pude sentir que você, de alguma forma, carregava
a magia de Eliel consigo. Desculpe-me por tê-lo julgado mal. Se Eliel confiou
em você, é porque você certamente é digno de confiança. Aceitaria uma xícara de
chá?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu sorri antes de responder:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Sim, obrigado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Enquanto Crisélia servia o chá, aproveitei a oportunidade
para desculpar-me:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Gostaria que você também me perdoasse pelas coisas
horríveis que eu disse.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Sorrindo, ela perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Ainda me considera uma bruxa?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Respondi:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não. Sinceramente eu gostaria de poder desfazer a má
impressão que lhe causei. Eu sou apaixonado por histórias e posso garantir que
fui atraído apenas pela magia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Com um sorriso cativante, Crisélia disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Espere só um minuto. Eu volto logo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Fiquei esperando ansioso. Quando ela retornou, entregou-me
um livro que, pelo aspecto, parecia muito antigo. Sorrindo, ela comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– É mágico. As páginas dele mudam de acordo com o seu
desejo. Pense em um tema, e a história aparecerá. Se não gostar de alguma
parte, basta desejar que ela seja contada de outra forma. É seu. Espero que
goste.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu estava encantado, e o prazer que senti ao folhear o livro
fez com que ela também se alegrasse. A alegria de Crisélia trouxe paz ao meu
coração, e eu encontrei apenas um modo de agradecer-lhe: levantei para
abraçá-la. Tremi ao sentir que ela retribuía o meu abraço e não consegui
resistir ao ímpeto de beijá-la. Desculpei-me em seguida. Eu estava
terrivelmente embaraçado, e o meu embaraço parecia diverti-la. Naquele mesmo
instante, tive uma intuição e disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Guarde o livro para quando eu voltar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Confusa, ela perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Aonde você vai?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Girando o anel, respondi:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Encontrar Eliel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ela disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não conseguirá. É melhor você…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não pude ouvir o final da frase porque, em poucos segundos,
eu estava na árvore de Eliel. Decepcionei-me ao encontrá-la vazia. Uma nova
intuição ocorreu-me. Girei o anel e retornei à árvore de Crisélia. Surpresa,
ela perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Como você conseguiu? Eu pensei que houvesse algum tipo de
bloqueio entre a árvore dele e a minha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Arrisquei um palpite:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não há. Venha comigo. A árvore dele está vazia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Usei o polegar da mão em que estava o anel para girá-lo e,
com a outra mão, segurei a mão de Crisélia, exatamente como fizera ao tentar
transportar Anabel. Ao nos encontrarmos no interior da árvore de Eliel,
Crisélia exclamou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não compreendo! Talvez a única explicação seja a ausência
dele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Aventurei-me a dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Isso nos dá uma vantagem. Na ausência de Eliel, talvez
consigamos trazer Anabel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Crisélia concordou, e voltamos para buscá-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Fizemos várias tentativas, mas todas infrutíferas. Crisélia
comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não faz sentido! Você sozinho não consegue levá-la. Eu não
consigo levá-la. Nós dois juntos também não conseguimos. Eu lhe disse que havia
um bloqueio. Só não imaginei que o bloqueio estivesse direcionado a Anabel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Foi a minha vez de exclamar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Impossível! Ele a ama. Além disso, se o bloqueio fosse
direcionado apenas a Anabel, não haveria motivo para que você não conseguisse
mais observá-lo através do espelho. Onde está o espelho? Talvez agora você
consiga ver Eliel. Alguma coisa pode ter mudado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Crisélia ponderou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– É melhor deixarmos para amanhã. O espelho está no quarto
de Anabel, e eu não quero acordá-la. Você também precisa descansar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">FIM DO SEGUNDO CAPÍTULO<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Sisi Marques<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">07/09/2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;">C O N T I N U A . . .</span></o:p></p>
<br />Sisi Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11800137749763796675noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8577469512531538541.post-12411350674067056502020-08-29T19:57:00.006-07:002020-08-29T20:04:07.109-07:00REALIDADE MÁGICA - LIVRO 1 - PARTE 2 - O MÁGICO<p> </p><p><span face="" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: large;"> </span></span><span style="mso-spacerun: yes;"><span style="font-size: x-large;"> </span></span><span style="font-size: x-large;">REALIDADE MÁGICA</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>PARTE 2 - CAPÍTULO 1<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O MÁGICO</span></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"> </p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O encontro inesperado e misterioso com Anastácio e as
visitas que eu fazia àquela propriedade, onde respirávamos histórias e presenciávamos
o seu desabrochar em forma de flores atraentes e perfumadas na manhã seguinte,
representavam o passo maior que eu conseguira dar em relação à magia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O meu coração sempre buscara algo que estivesse além desta
realidade. As histórias que eu contava prazerosamente não bastavam para
satisfazer a minha sede cada vez mais intensa de fantasia. Não se pode
acreditar em algo que só existe na imaginação das pessoas. Contar histórias,
sim. Acreditar nelas, não.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Quando eu era chamado para exercer o meu ofício de contador
de histórias em festas infantis, sempre havia a oportunidade de assistir às
apresentações dos mais diversos números de mágica. Para expressar a minha
frustração em relação à mágica, criei uma teoria: “Há mágica na magia, mas não
há magia na mágica.” Você dirá que também fabrico ilusões; entretanto, nas
histórias, há magia e esperança.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Anos mais tarde, porém, fui obrigado a repensar a minha
teoria de não haver magia na mágica. Meus olhos se abriram durante uma
apresentação que, sem sombra de dúvida, era uma demonstração de magia. Não
houve preparação alguma: ofereci-me para ser o assistente do mágico e posso
assegurar que não houve preparação alguma. O que aparecia surgia do nada, e o
que sumia ao nada voltava. Não havia uma caixa com fundo falso, cortinas,
objetos escondidos nas mangas e nos bolsos… Não havia distrações… Não havia
truques de espécie alguma… Havia apenas uma varinha que me deixava intrigado
toda vez que se agitava no ar, embalada por palavras inaudíveis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O mágico era de poucos amigos e de pouca conversa. Cheguei
mesmo a considerá-lo arrogante e intratável. Apesar disso, o meu sonho de
contemplar a magia na mágica realizava-se, e eu estava fascinado. A ocasião era
uma festa de dez anos. Ele fez o seu trabalho, e eu fiz o meu. Mal conversamos,
e ele foi embora sem se despedir. A pedido do aniversariante, eu fiquei um
pouco mais para contar uma última história. Eu já estava de saída quando o
menino comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– O mágico esqueceu a cartola.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Reconheci a oportunidade e decidi aproveitá-la. Perguntei ao
garoto o endereço do mágico e me ofereci para entregar-lhe o chapéu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">A casa do mágico ficava a dois quarteirões e não tinha nada
de especial. O mágico não me agradeceu o favor. Apanhou a cartola e entrou,
fechando a porta atrás de si. Eu fiquei parado feito uma estátua, pensando em
sua falta de… Algo pulou em meu bolso e interrompeu o meu pensamento. Receoso,
imaginando tratar-se de uma brincadeira de mau gosto dos meninos da festa,
coloquei a mão no bolso para verificar o que era. Havia apenas um cartão com os
dizeres: “Encontre-me na entrada da floresta à meia-noite.” Senti as pernas
tremerem. Um sapo teria me causado menos pavor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Passei o resto do dia imaginando como seria aquele encontro.
Não consegui jantar. Eu sentia náusea só de pensar em atravessar a estrada para
entrar na floresta. Gosto de florestas apenas nas histórias. Na vida real,
porém, elas me dão calafrios. E por que à meia-noite?… Certamente aquele
sujeito estava zombando de mim. “E se ele não aparecer?” Essa era a pergunta
que eu fazia a mim mesmo já na entrada da floresta. Minhas pernas estavam
bambas, e o meu coração quase saltou pela boca no momento em que ouvi o pio de
uma coruja. Se o mágico não me tivesse segurado pelo braço, não me envergonho
em dizer que teria saído correndo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Um pouco mais calmo, ainda sentindo sua mão apertando o meu
braço, virei a cabeça para certificar-me de que era ele realmente e exclamei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Pode me soltar! Combinamos de nos encontrar na estrada, e
nada fará com que eu entre na floresta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Com a nítida intenção de me aborrecer, ele disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não combinamos coisa alguma. Eu só lhe enviei uma
mensagem. Você veio porque quis e poderá ir embora quando desejar. Agora, vai
entrar ou vai continuar aí parado?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu fui obrigado a confessar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Florestas me dão calafrios especialmente à noite. Já ouvi
e contei tantas histórias sobre florestas que, na minha imaginação, elas estão
povoadas com todos os tipos de seres.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Para assustar-me ainda mais, ele disse em tom enigmático:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Pois a sua imaginação não conhece a milésima parte deles.
Não consegue ver os olhos curiosos e horrendos que nos espreitam por detrás das
folhas? Há perigo e mistério em cada canto…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele não conseguiu continuar, porque começou a rir. Depois,
retomando seu mau humor, perguntou irônico:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Está decepcionado? Esperava que eu inventasse histórias
para entretê-lo? Que espécie de contador de histórias é você? É uma pena eu não
ter um espelho para você ver a cara que faz quando está com medo. Ou eu
tenho?!… Veja só: apareceu um em meu bolso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Odeio quando caçoam de mim. Para vingar-me de seu sarcasmo,
eu disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Também não estamos aqui para você exibir os seus truques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Surpreendi-me quando o ouvi dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Você tem razão: estamos perdendo um tempo precioso.
Siga-me; quero mostrar-lhe o meu verdadeiro lar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Que verdadeiro lar seria aquele? Enquanto caminhávamos,
folhas úmidas e galhos pontudos esbarravam no meu rosto e nas minhas roupas, e
eu tremia com receio de me perder naquela escuridão. Quando dei por mim,
estávamos diante de uma árvore que eu não conseguia enxergar, e teria ido de
encontro a ela se ele não tivesse gritado:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Pare. Há uma árvore enorme bem à sua frente. Sinta-a com
as mãos. Contorne-a. Ela precisa conhecê-lo para deixá-lo entrar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Aquilo mais parecia um ritual, e eu não saberia dizer
quantas vezes fui obrigado a caminhar ao redor da árvore, abraçando-a,
apalpando-a, até que, para o meu desespero, o meu braço ficou preso no tronco.
Eu gritava feito louco:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Meu braço! Árvore maldita, solte o meu braço!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Procurando acalmar-me, o mágico disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Está tudo bem. Feche os olhos e entre. Ela aceitou a sua
presença, e a barreira invisível já foi removida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O mágico estava certo. Quando eu respirei profundamente e
caminhei de encontro à árvore, ela não colocou a menor resistência. Ele também
já estava dentro dela quando murmurei lentamente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eu estou dentro da árvore! Nós estamos dentro da árvore!
Como isso é possível?!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele exclamou com a maior naturalidade:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– O tronco é oco!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Revesti-me de impaciência ao exclamar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não banque o espirituoso! A questão é: como atravessamos o
tronco?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele respondeu calmamente:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– A minha árvore se abriu para que pudéssemos entrar. Está
com fome? Siga-me. Cuidado com os degraus. Nos cômodos subterrâneos, há
bastante iluminação, conforto e tranquilidade. Aqui não há nada a temer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Cansado de esperar que eu me servisse da comida que estava
sobre a mesa, ele disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Eu deveria ter imaginado que o seu medo estragaria o seu
apetite. Talvez consiga comer mais tarde. Também há algo em meu interior que me
rouba o prazer de tudo, inclusive, de uma boa refeição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu estava quieto demais, e o meu silêncio parecia
incomodá-lo mais do que as minhas perguntas. Ele olhava para mim, imaginando
que a minha curiosidade fosse jorrar a qualquer momento. Mas eu não conseguia
raciocinar adequadamente: os meus pensamentos pareciam as argolas soltas de uma
corrente que acabara de se quebrar. Não achei a menor graça quando ele
comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– A sua língua deve ter ficado do lado de fora. Caso contrário,
você já teria me perguntado o que rouba o meu prazer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eu usei de toda a sinceridade quando disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não estou interessado. Só o que desejo saber é se
conseguirei sair daqui algum dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– A minha árvore bem que poderia mantê-lo prisioneiro,
porque você me diverte e olha que há décadas eu não me divertia tanto!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Mal-humorado, respondi:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Ria! Pode se divertir o quanto quiser! Amanhã, quando o
dia clarear, encontrarei um meio de sair daqui. E quer saber quem levará a melhor?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Surpreendi-me quando o ouvi exclamar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Crisélia!… Ela sempre leva a melhor, e restam apenas sete
meses…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O mágico conseguira acender a minha curiosidade e sorriu
tristemente quando me ouviu perguntar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Quem é Crisélia? Você a ama?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Com o olhar perdido em lembranças, ele afirmou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Muitíssimo, embora ela tenha jurado que Anabel e eu nunca
mais tornaríamos a nos encontrar. Já se passaram sessenta e cinco anos, quatro
meses e nove dias desde a última vez em que os meus olhos beberam da doçura dos
olhos de Anabel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Imagine só! Eu fiquei perdido, tentando repassar na minha
mente o número de anos, meses e dias que o mágico mencionara. Tudo começou a
fazer sentido: ele não era um mágico e sim um mago disfarçado. Lembrei-me dos
sete meses e arrisquei a pergunta:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Se já faz tanto tempo que estão separados, por que os
próximos sete meses são tão relevantes?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O mago respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Daqui a sete meses, a minha árvore mudará de lugar, e eu
não sei aonde ela me levará. Isso sempre acontece. Ela não fica mais do que
dezessete meses em um mesmo local. Por que continuar se Anabel não estará lá?…
Ela nunca está. Não há esperança.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Sensibilizado com o seu sofrimento, perguntei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Por que não me diz como posso ajudá-lo? Você não teria me
trazido aqui e exposto o seu segredo se não houvesse uma razão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele exclamou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– E não há! Talvez eu estivesse me sentindo muito solitário
e precisasse desabafar com alguém!… Você não conseguiria compreender o tormento
que é viver essa vida dupla: parte na floresta e parte com aquelas pessoas que
mais parecem estar dormindo do que vivendo. O meu mundo é aqui, mas eu preciso
visitar os povoados para encontrar Anabel. Se existe alguma possibilidade do
meu plano funcionar, é bem remota.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Perguntei entre surpreso e receoso:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Que plano?!… Não me diga que faço parte dele!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele afirmou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– O sucesso do meu plano dependerá de seu empenho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Exclamei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Você é maluco! Primeiro afirma que me trouxe para cá sem
motivo; depois menciona um plano do qual eu faço parte, mas não tenho
conhecimento algum!…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O mago, para confundir-me ainda mais, disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Arquitetei um plano no qual você seria o instrumento que
eu usaria para encontrar Anabel e trazê-la de volta. Agora vem a parte em que
você acertou em cheio: sou maluco, o plano é inútil, e eu não deveria ter
revelado o meu segredo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Arrisquei afirmar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Modestamente, considero-me a sua melhor opção. Só não
compreendo como poderia tornar-me um instrumento em sua busca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Pela primeira vez, pude observar uma mudança no olhar e na
expressão do mago. Ele parecia ter abandonado todas as máscaras e subterfúgios
quando disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Talvez eu não seja maluco, o meu plano não seja
descartável, e trazê-lo aqui tenha sido a melhor decisão que já tomei. Meu nome
é Eliel. Viaje para vários lugares e conte a minha história. Diga que, em
muitas florestas, existe sempre uma única árvore, habitada pelo mesmo elfo que
chora de saudade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Embora eu tenha gostado muito, não consegui evitar a
pergunta:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– É só isso?… Quero dizer, as pessoas desejarão saber como a
história continua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Balançando a cabeça em sinal de desacordo, ele declarou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– É o suficiente. Agora precisamos dormir, mas antes terá
que se alimentar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Na manhã seguinte, acordei em um quarto que não era o meu,
em uma casa que não era a minha e dentro de um pijama que igualmente não era
meu. Pensei: “Se tudo não passou de um sonho, por que não estou em casa?” A
resposta para o que estava acontecendo, entretanto, não tardou a aparecer.
Eliel entrou no quarto, cumprimentou-me e abriu as cortinas. Perguntei-lhe:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Onde estamos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Na minha casa. Onde mais poderíamos estar? Lembre-se da
frase de sabedoria: “Paredes têm ouvidos.” Pode apostar que elas têm mesmo.
Certa vez, em um pequeno vilarejo, quase fui acusado de bruxaria devido às
minhas frequentes incursões à floresta. Preciso ser discreto. Prefiro fazer a
mágica debaixo do nariz deles a fazê-la às escondidas. Vá se vestir que o café
já está pronto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Após o desjejum, caminhamos até a praça. Tenho um hábito que
é difícil de resistir: mal sentei no banco, retirei o bloquinho de anotações do
bolso e a caneta. Pedi a ele:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Conte-me uma história qualquer. Quem viveu durante tanto
tempo deve ter muita coisa para contar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ele disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Encontre Anabel, e ela lhe contará quantas histórias
quiser. Anabel, antes de se apaixonar por mim e beber da Fonte da Juventude,
adorava encantar as pessoas com suas histórias. Certa vez, eu estava passeando
pelo parque e ouvi uma delas. Quando me aproximei para pedir-lhe que viesse
morar comigo em minha árvore, ela se assustou e pediu-me tempo e paciência.
Paciência eu tinha de sobra; tempo, porém, era algo do qual eu não dispunha.
Entreguei a ela um pequeno frasco que continha o líquido mais precioso que
alguém poderia sonhar em obter: a água mágica da Fonte da Juventude.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Após uma breve pausa, Eliel prosseguiu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Crisélia, minha irmã, preocupada com o meu bem-estar,
costumava observar-me em seu espelho mágico. Ela procurou-me e disse que
precisava do líquido para tornar imortal um jovem por quem se apaixonara.
Neguei-lhe o pedido; e ela, quando viu em seu espelho que eu entregara o frasco
a Anabel, revoltou-se e jurou nos separar. Anabel, dois dias antes do
deslocamento da minha árvore, confessou-me o seu amor e bebeu o líquido que
permitiria que ficasse jovem e bela para sempre. Com a intenção de despedir-se
de seus familiares e tranquilizá-los quanto à sua partida, disse-me que se
ausentaria por algumas horas e nunca mais retornou. Fiquei desesperado, mas não
havia nada que eu pudesse fazer. O momento da partida chegou, e a minha árvore
transportou-se para outro local. Eu jamais pensei que pudesse contar a minha
história para alguém, especialmente, para um humano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não o interrompi, porque eu estava atônito. A história era
verdadeira, e eu silenciosamente agradecia a ele por tê-la confidenciado a mim.
Para quebrar o silêncio que se seguiu após ele terminar a narrativa, perguntei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Gostaria de tomar sorvete?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Eliel aceitou o convite. Depois da sorveteria, retornamos à sua
casa, e ele entregou-me dois objetos enquanto dizia:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Tanto o anel quanto a carteira foram confeccionados com
fibras extraídas da casca da minha árvore. O anel poderá conduzi-lo aonde
desejar, e a carteira conterá o dinheiro que precisar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Aceitei os dois presentes alegremente, perguntando-me o que
mais um homem poderia desejar; e Eliel, adivinhando os meus pensamentos,
respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Amor. Não há magia maior. Lembre-se de todos os lugares
dos quais já ouviu falar, deseje conhecê-los, feche os olhos e gire o anel em
sentido horário. Se desejar voltar para esta casa ou encontrar-me em minha
árvore, gire o anel em sentido anti-horário. Quanto à carteira, poderá prover
todas as suas despesas de alimentação, vestuário e moradia. Não economize; você
merece o melhor. Basta imaginar a quantia, desejar obtê-la, fechar os olhos,
abrir a carteira, e o dinheiro certamente estará lá. Alguma pergunta?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Com o semblante preocupado, comentei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Não poderei partir antes do final da semana, porque ainda
tenho mais duas apresentações agendadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Fiquei surpreso quando o ouvi dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">– Faça o que tiver que fazer e, quando estiver disponível,
arrume as malas e deixe que o vejam pegar o ônibus com destino a algum lugar.
Só então comece a utilizar o anel e a carteira. Até o dia de sua partida,
ficará hospedado em minha casa. E não me agradeça, porque só estou pensando em
mim mesmo. Ser hospitaleiro e fazer amizade com um recém-chegado será muito bom
para a minha reputação nesta vila.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">FINAL DO 1º CAPÍTULO DA PARTE 2 (O MÁGICO) DE “REALIDADE
MÁGICA – LIVRO 1”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><i>Sisi Marques</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">29/08/2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">NÃO PERCA A CONTINUAÇÃO DA PARTE 2 (O MÁGICO), NA PRÓXIMA
SEXTA-FEIRA, DIA 04/09/2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Até breve!...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><i><span style="font-size: large;">Sisi Marques</span></i><o:p></o:p></p><br /><p></p>Sisi Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11800137749763796675noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8577469512531538541.post-48182592818824817282020-08-21T13:36:00.032-07:002020-08-21T14:24:01.026-07:00REALIDADE MÁGICA – LIVRO 1 – PARTE 1 – O CONTADOR DE HISTÓRIAS<p> </p><br />
<p class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> <span style="font-size: x-large;"> </span></span><span style="font-size: x-large;">REALIDADE MÁGICA</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>PARTE 1<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O CONTADOR DE
HISTÓRIAS<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Não posso revelar a identidade do protagonista desta
história porque ele jamais perdoaria tal indiscrição. Desse modo, para evitar constrangimentos,
usarei o nome Anastácio sempre que me referir a ele.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Tudo começou quando “Anastácio” estava sentado em um banco
de jardim de uma praça pública, buscando as palavras certas para compor sua
história. Naquela manhã, ele se sentiu embaraçado ao perceber que o homem de
idade bastante avançada, sentado ao seu lado, o observava insistentemente.
Cansado de ser o alvo daquele minucioso exame, ele parou de escrever e
perguntou ao tal sujeito:</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Posso ajudá-lo de alguma forma?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">O homem respondeu enigmático:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Talvez possamos nos ajudar mutuamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio afirmou sem rodeios:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Duvido muito. Peço-lhe a gentileza de me deixar em paz
para que eu possa continuar o meu trabalho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">O homem permaneceu no mesmo lugar e continuou a encará-lo em
silêncio. Anastácio, sentindo-se queimar por dentro, levantou-se. Perguntava-se
como alguém poderia aparecer do nada e estragar completamente o seu dia.
Parecendo ler os seus pensamentos, o homem disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Eu não tenho nada a ver com a sua irritação e não estraguei
o seu dia. É você quem estraga o seu dia todas as manhãs quando senta para
escrever neste lugar estéril. Venha comigo para que eu possa mostrar-lhe um
local mais adequado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio sentou-se novamente antes de dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Não estou interessado. Por que não convida o otário
sentado no banco em frente, que também estava escrevendo e agora parou para nos
observar? Talvez ele tenha mais tempo e paciência para gastar com a sua
intromissão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Adivinhe só quem era o “otário sentado no banco em frente”?
Acertou: era eu, Felizardo. Balançando a cabeça em sinal de desaprovação, o
homem respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Não. Já cheguei a pensar nele, mas receio que ainda não
esteja pronto. Falta-lhe paixão, amor pelas histórias. Você, no entanto,
precisa delas e as busca porque as ama: o seu coração respira histórias. Venha
comigo. Você tem todo o tempo do mundo; mas, para mim, o tempo está acabando e
se torna mais valioso a cada minuto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio esquadrinhou o rosto daquele desconhecido que não
media esforços para atraí-lo com sua fala mansa. Perguntou a si mesmo que mal
haveria em segui-lo se ele não parecia representar perigo algum. Após breve e
silenciosa reflexão, Anastácio aventurou-se a dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Está bem. Estou disposto a acompanhá-lo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Exibindo um sorriso vitorioso, o homem disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– O carro está estacionado aqui perto; meu motorista nos
levará até lá.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Após duas horas de viagem, o carro estacionou em frente a um
terreno que pareceria abandonado se não fosse pela cerca, o portão, o banco e
um chalé bem-cuidados. Quanto à terra, parecia seca, dura, imprópria a
qualquer tipo de cultivo. Dando vazão à sua raiva e frustração, Anastácio
afirmou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Se me trouxe aqui para me empurrar esta terra improdutiva,
perdeu o seu tempo porque não costumo jogar fora o dinheiro que herdei do meu
pai. A resposta é não. Não comprarei esta propriedade sem valor no meio do
nada!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Aparentemente confuso pela inesperada reação, o homem disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Não sou um vendedor e não estou tentando empurrar-lhe
coisa alguma. Só lhe peço que inspire o ar deste lugar com o coração. Sinta
como a atmosfera está repleta de histórias. Sente-se naquele banco. Feche os
olhos. Concentre-se e atraia uma delas. Deixe-a entrar em seu coração para que
ela possa lhe revelar o seu aroma e a sua delicada trama.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio já começava a odiar-se por ter se deixado enganar
quando, de repente, algo inesperado aconteceu: uma deliciosa brisa envolveu o
seu coração, e ele se sentiu preso num doce devaneio. Fragmentos de uma
história nova aglutinaram-se em sua mente, e o seu único desejo era: dar-lhe
vida. Sem hesitar, ele sentou no banco, abriu o caderno de anotações, apanhou a
caneta do bolso e começou a escrever.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Quando Anastácio terminou de reunir os pedaços da história,
leu-a prazerosamente e, só então, olhou ao redor e surpreendeu-se ao verificar
que já era noite, e não havia nem sinal do homem que o trouxera ali. Caminhou
até o chalé e teve outra surpresa: a dispensa estava cheia; e o asseio, a
disposição dos móveis e a quietude daquele lugar pareciam convidá-lo a
estabelecer-se ali por alguns dias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Na manhã seguinte, uma nova e agradabilíssima surpresa
deixou-o de boca aberta e olhos arregalados: bem próximo ao banco, havia um
canteiro de terra fofa e, nessa terra macia e úmida que aparecera do nada,
despertara uma flor. Aproximando-se da flor, Anastácio pôde sentir sua
fragrância e ficou extasiado ao perceber que era o mesmo aroma da brisa que o
envolvera antes que ele começasse a escrever a história. Em seu coração, ele
guardava a certeza de que a sua história dera origem àquele canteiro e àquela
flor. Novas histórias viriam, e mais flores nasceriam naquele jardim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Os dias se passaram velozmente, e as manhãs traziam as
flores, frutos da inspiração contida nas histórias. Anastácio jamais se sentiu
tão bem em toda a sua vida. Pensava estar sonhando e receava acordar. Cada flor
possuía uma fragrância semelhante ao aroma da brisa que o envolvia antes de
começar a escrever determinada história, e esta parecia ser a parte melhor:
cada flor representava uma história, cada flor era única, e ele as amava. Como
poderia deixá-las se desejava ardentemente que se multiplicassem? Lembrou-se do
homem e sentiu remorso por tê-lo tratado tão mal. Precisava desculpar-se e
decidiu ir ao cartório mais próximo para verificar a quem pertencia aquela propriedade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Mais surpresas aguardavam-no quando ele chegou ao cartório
pedindo informações sobre o misterioso proprietário. Apanhando uma pasta com
vários documentos, o funcionário respondeu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– A propriedade atualmente pertence ao “Sr. Anastácio”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Você já deve ter imaginado que não foi esse o nome que o
funcionário do cartório mencionou. Na escritura da propriedade, estava escrito
o seu nome verdadeiro. O funcionário do cartório não pareceu surpreso ao
ouvi-lo dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Certamente houve um terrível engano. A propriedade não é
minha; mas, sem sombra de dúvida, eu gostaria de comprá-la. Como posso entrar
em contato com o proprietário?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Pacientemente, o funcionário do cartório explicou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Se o senhor é o Sr. Anastácio, basta apresentar-me um
documento que comprove sua identidade e assinar aqui, para que eu possa
entregar-lhe as chaves e a escritura. Não lhe será cobrada taxa alguma, porque
todas as despesas já foram pagas no ato da doação. Caso o senhor não seja o Sr.
Anastácio e esteja interessado em adquirir a propriedade, deverá entrar em
contato com o Sr. Anastácio, porque só ele poderá autorizar a venda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Com as mãos trêmulas, enquanto mostrava seu documento ao
funcionário e preparava-se para assinar a escritura, Anastácio murmurou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Eu não compreendo como posso ser dono da propriedade se
nada paguei por ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Bem-humorado, o funcionário exclamou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– É realmente impressionante! Já ouvi dizer, e os documentos
comprovam que o atual doador também não pagou nada por ela, e nem mesmo os dois
proprietários anteriores. Essa propriedade enorme é sempre doada por razões
desconhecidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Despretensiosamente, Anastácio comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Ela não é tão grande assim. Trata-se apenas de um terreno,
aparentemente sem valor, com um chalé. Para mim, no entanto, ela tem valor
inestimável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Discordando respeitosamente, o funcionário balançou a cabeça
para os lados, antes de dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Talvez o senhor não tenha tido a oportunidade de conhecer
a propriedade como um todo. Além desse terreno que mencionou, existem outros
sem construção alguma. Mas a satisfação maior virá de três terrenos cujas casas
foram cercadas por agradáveis jardins. Se desejar, poderei acompanhá-lo até lá
para lhe mostrar toda a propriedade. De qualquer modo, juntamente com a
escritura, estou lhe entregando a planta atualizada e o molho de chaves.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Um pouco atordoado pela avalanche de surpresas, Anastácio
disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Muito obrigado, mas creio que não será necessário. Eu só
gostaria de poder agradecer ao meu benfeitor. Não teria ele deixado algum
endereço ou telefone para contato?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">O funcionário, solícito, apresentou um cartão e
desculpou-se:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Perdoe-me o esquecimento. Ele deixou este cartão com um
número de telefone para que lhe fosse entregue.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Com o coração descompassado, Anastácio perguntou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Eu poderia usar o telefone?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">O funcionário consentiu, e Anastácio segurou o fone e discou
o número com as mãos trêmulas. Percebeu logo que a pessoa do outro lado da
linha não conhecia o homem que lhe entregara aquele maravilhoso presente. Mas,
ainda assim, ficou curioso em descobrir qual era a relação entre os dois.
Certamente algum motivo haveria para aquele número de telefone ter chegado às
suas mãos. Precisava desvendar o mistério e, para isso, marcou um encontro com
o homem que, sem saber o que pensar, sem saber o que dizer, o ouvia
pacientemente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Foi com imenso pesar que Anastácio, ao sair do cartório, em
vez de retornar ao seu refúgio, dirigiu-se à sua casa, que ficava próxima à
praça na qual ele marcara o encontro para a manhã seguinte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio, ao acordar, sentiu falta da atmosfera que
envolvia aquele lugar mágico. Queria voltar o mais rápido possível, mas
primeiro teria que se desvencilhar daquele compromisso insípido. Deveria estar
curioso para saber quem o aguardava próximo ao chafariz da praça; entretanto, o
único sentimento que desabrochava em seu coração era a necessidade de respirar
e compor novas histórias. Depois desse encontro, mudar-se-ia definitivamente
para aquele lugar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Por volta das 9h, Anastácio chegou à praça e sentou-se ao
meu lado no banco próximo ao chafariz. Ele olhava em minha direção com o
semblante carregado e só faltou pedir-me que deixasse o banco e fosse sentar em
qualquer outro lugar. Minutos depois, comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Eu espero alguém. E você, o que faz aqui sem o seu caderno
de anotações?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Uma pergunta direta merecia uma resposta igualmente direta:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Também espero alguém.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Após consultar o relógio várias vezes, ele teceu novo
comentário:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Uma namorada, eu suponho. É por esse motivo que evito as
mulheres. Odeio esperar, e elas parecem se divertir ao nos deixar esperando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Foi a minha vez de dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Antes estivesse aqui aguardando a chegada de uma bela
jovem. Receio ter sido vítima de um trote. Um sujeito maluco ligou para a minha
casa ontem, perguntando se eu conhecia um senhor que o levou a uma propriedade
que ficava a duas horas daqui. Tirando isso, não falava coisa com coisa, e eu
não consegui entender mais nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">A expressão inesperada em seu rosto deixou-me preocupado.
Perguntei-lhe:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– O que há? Não está se sentindo bem?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Ele sorriu antes de perguntar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Qual é o número do seu telefone?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Tudo começou a fazer sentido, e eu exclamei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Não me diga que foi você quem ligou e marcou este
encontro!…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio revelou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– O homem que você afirma não conhecer pediu que me
entregassem o número de seu telefone quando eu fosse ao cartório. Ele
certamente esperava que nos encontrássemos por alguma razão. Ouça, engana-se ao
dizer que não o conhece. Você já o viu nesta praça há alguns dias enquanto
conversávamos. Você até mesmo parou de escrever para nos observar. Não se
lembra?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Eu olhava para ele em busca das palavras que usaria para não
ofendê-lo ao ter que desmenti-lo. Finalmente fui obrigado a dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Eu parei de escrever na última vez em que pude observá-lo
fazendo anotações, porque achei interessante o modo como você atuava para
caracterizar melhor o seu personagem. E posso afirmar que não havia ninguém ao
seu lado: era apenas você e a sua imaginação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Com o olhar incandescente, ele exclamou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Está zombando de mim!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Desconcertado, perguntei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Por que eu faria isso? Ouça, eu moro aqui perto. Gostaria
de ir à minha casa para que pudéssemos conversar com mais privacidade?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Balançando a cabeça negativamente, ele disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Não. Você irá à minha casa para que eu possa provar-lhe
que não estou louco. Venha, posso mostrar-lhe as chaves, a planta, a escritura…
Eu não imaginei tudo aquilo. Não posso ter imaginado!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Acompanhei Anastácio à sua casa e pude verificar que a
planta e a escritura eram autênticas. Ele estava satisfeito, e o seu entusiasmo
era tão grande que ele parecia uma criança narrando o que lhe acontecera nos
últimos dias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio pediu à empregada que nos servisse um lanche e,
depois, conduziu-me à garagem, para que ele pudesse tirar o carro para
levar-nos à propriedade. Aquele era o início de uma grande e sincera amizade.
Quando chegamos ao terreno, o meu único desejo era contemplar as poucas flores
que ele afirmava terem desabrochado num canteiro recém-formado. E lá estavam
elas! Eram lindas, perfeitas! E cada uma possuía um perfume diferente, sedutor!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Deliciando-se com o meu entusiasmo, Anastácio disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Você também poderá criar as suas próprias flores e
ajudar-me a embelezar o jardim. Basta abrir o seu coração para a atmosfera
deste lugar e inspirar uma história. Lembre-se: você precisa respirar com o
coração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Eu estava feliz. Sentia-me leve e continuava a rir quando
algo muito estranho aconteceu: um calor agradável envolveu o meu coração, que
pareceu abrir-se como uma flor para acolhê-lo. Na minha mente, partes de uma
história, como se fossem peças de um enorme quebra-cabeça, começavam a se
juntar. Retirei do bolso um bloco de anotações e uma caneta, sentei no banco e
comecei a escrever. Foi um momento perfeito. O tempo passou com a rapidez do
vento e, quando dei por mim, já era noite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Um aroma irresistível vinha do chalé e me convidava a
entrar. Quando apareci à porta, Anastácio disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Entre e sirva-se. Você estava tão concentrado, que eu não
quis incomodá-lo e vim aproveitar o tempo de outra forma. Perdoe-me se a
refeição não estiver do seu agrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Lavando as mãos, comentei:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Se a refeição estiver tão boa quanto o cheiro!… Não
imaginei que gostasse de cozinhar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Sentando-se à mesa, Anastácio, procurando conter o seu
entusiasmo, disse:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– E não gosto, mas precisava ocupar-me de algum modo.
Conte-me como foi a sensação de respirar sua primeira história neste lugar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Eu respondi sorrindo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Plena. Não existe outra forma de descrevê-la. Ouça, quando
chegamos, eu tomei a liberdade de contar as flores. Você acredita que amanhã
aparecerá mais uma?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Ele afirmou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Certamente. E você estará aqui para vê-la. Está muito
tarde para voltarmos. Amanhã, se você não tiver outro compromisso, eu gostaria
que caminhasse comigo pela propriedade. Precisamos visitar os outros jardins.
Você já se perguntou qual será a duração das flores?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Respondi:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Para ser sincero, não. Mas posso arriscar um palpite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Anastácio incentivou-me a continuar:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Por favor, fale. Nada do que disser parecerá tolice. Somos
amigos, e amigos têm a liberdade de dizer o que pensam. A propósito, daqui a
uma semana haverá o Encontro Anual dos Contadores de Histórias. É uma boa
ocasião para nos reencontrarmos. Só lhe peço sigilo, porque não podemos
permitir que esta história venha à tona. Se algum dia você quiser contá-la,
deverá ser como algo fictício; e, por favor, nunca mencione o meu verdadeiro
nome. Se as pessoas acreditarem que é uma ficção, jamais procurarão o lugar.
Agora me responda qual é o tempo de vida das flores que estamos ajudando a
desabrochar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Aventurei-me a dizer:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">– Cada flor representa uma história. As histórias só morrem
quando são esquecidas. Dessa forma, o esquecimento é a única erva daninha capaz
de comprometer a saúde das flores. É o nosso dever contar as histórias para que
elas não sejam esquecidas e as flores permaneçam sempre viçosas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Após alguns minutos de reflexão, Anastácio afirmou concordar
com a minha teoria. O seu semblante estava sereno, e ele parecia satisfeito.
Nada pode ser mais prazeroso a um contador de histórias do que se tornar o
protagonista de uma história fascinante. Eu também estava felicíssimo. Talvez
eu nem precisasse dizer que, na manhã seguinte, contemplei a minha flor com um
prazer descomunal. É como Anastácio costumava dizer: “Só mesmo estando lá para
saber como é agradável e revigorante respirar e cultivar histórias!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">FIM DA 1ª PARTE (O CONTADOR DE HISTÓRIAS) </span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">DE "RE</span><span style="font-size: x-large;">ALIDADE MÁGICA – LIVRO 1”.</span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><i>Sisi Marques</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">21/08/2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><span style="font-size: x-large;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Não perca a 2ª Parte (O Mágico) de “REALIDADE MÁGICA – LIVRO
1”, na próxima 6ª feira, dia 28/08/2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;">Até breve!...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: x-large;"><i>Sisi Marques</i></span><o:p></o:p></p>Sisi Marqueshttp://www.blogger.com/profile/11800137749763796675noreply@blogger.com0